Atenta à demanda futura por biocombustíveis, a Brasil BioFuels construirá uma biorefinaria de diesel verde (HVO) e de combustível de aviação sustentável (SAF) com capacidade de 500.000m³ por ano que funcionará a partir de 2025.
O grupo que atua na região Norte do país entregará neste ano novas usinas termelétricas movidas a biodiesel de óleo de palma e também iniciará o plantio de cacau na sombra das palmeiras.
Junte-se a Alexandre Melo, repórter da publicação Argus Brasil Combustíveis, e Milton Steagall, presidente da Brasil BioFuels. Eles conversam sobre as perspectivas para os negócios de energia da BBF e o cenário para o mercado de biodiesel no país.
AM – Olá e bem-vindos ao ‘Falando de Mercado’, uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Alexandre Melo, eu sou repórter da publicação Argus Brasil Combustíveis. No episódio de hoje eu converso com Milton Steagall, presidente da Brasil BioFuels, produtora de óleo de palma, biodiesel, insumos renováveis e geradora de energia termelétrica e biotecnologia na região norte. A BBF expandirá sua atuação a partir de 2025 com uma biorefinaria de diesel verde, conhecido como HVO, e de combustível de aviação sustentável, o SAF. Bem-vindo, Milton.
AM – A BBF investirá R$2,2 bilhões para produzir HVO e SAF em uma planta com capacidade de 500.000m³ por ano a partir de 2025. Como o Brasil está se preparando para essa nova fronteira dos biocombustíveis? Até agora, temos este em Manaus e outro da Petrobras em Cubatão.
Exato. Acho que o governo brasileiro tomou a dianteira e fez as especificações desses combustíveis. Temos tudo para tomar a liderança nesse mercado que tem investimentos elevados principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Nos EUA, a estratégia foi reformular as antigas refinarias para fazer o processamento do óleo vegetal e isso tem se mostrado um processo caro, apesar de mais rápido porque usa unidades paradas ou antigas. Mas a eficiência desses ativos ainda não foi comprovada. A novidade é a demanda global é a demanda por esses dois combustíveis e como o Brasil como é grande produtor de óleo vegetal tem tudo para liderar a corrida por esses combustíveis que vamos chamar de 4.0.
AM – Qual será a origem dos recursos para este investimento e em quanto tempo espera obter o retorno? É um projeto de longo prazo. Junto com o investimento de R$2,2bilhões que você mencionou está em discussão com um consórcio de bancos. Tem também a parte agrícola da palma, para que tenhamos o óleo vegetal dentro de casa. Observamos que nos mercados que já produzem esses biocombustíveis é que a grande dúvida está no preço da matéria-prima. Todas as empresas que trabalham o hidro processamento dos óleos e das gorduras dependem de commodities e mesmo o óleo usado de cozinha, que tem prêmio na Europa e nos EUA está custando mais caro que o óleo virgem vegetal. A originação do insumo é fundamental para aqueles que quiserem avançar como produtor de HVO SAF e tenham o investimento. Se eu construir um ativo sem a matéria-prima fico exposto à commodity. É difícil conquistar o investidor para aplicar recurso no projeto quando não se consegue justificar que 80pc do custo da matéria qual o preço que isso vai ter comprado ao valor final do produto precificado pelo mercado. O BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] vai liderar o consórcio de bancos.
AM – A BBF possui 75 mil hectares de área plantada de palmeiras. Como a empresa pretende aumentar a escala? A Agropalma, do Grupo Alfa, tem 39 mil hectares próprios e está à venda. Este pode ser um caminho para aumentar a musculatura do grupo?
O que é importante frisar é que o Brasil uma legislação em 2010, que é o zoneamento agroecológico da cultura da palma, que disponibilizou 31 milhões hectares degradados na floresta Amazônica com aptidão para a cultura da palma. A Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] classifica essas áreas coo preferencial, regular e marginal. É muito importante que adicione área e não pense apenas nas que já existem. Se não quisermos competir com alimento, precisamos separar as coisas. O projeto com a [distribuidora de combustíveis] Vibra Energia, em que a BBF se compromete a desenvolver 100 mil hectares de palma são áreas novas. Visamos recuperar áreas e dar emprego à população da região, formada por 30 milhões pessoas. Em Roraima, estima-se que entre 15 mil e 30 mil garimpeiros deverão desocupar a terra dos Yanomami. As pessoas vão deixar essa atividade ilegal, mas que dá sustento às famílias. Onde serão recolocadas se não há disponibilidade de emprego em uma região tão grande como a Amazônia? Por isso o projeto é importante. Entre a cultura da palma, podemos plantar nas áreas degradadas até dezembro de 2007 ocuparei quase 15 mil pessoas. As áreas desmatadas após este período serão integradas à cultura do cacau, que é nativa e perene e não pode ser mecanizada. Apesar das peculiaridades de cada cultura, os tratos são semelhantes. O cacau precisa de sombreamento nos dois a três primeiros anos de vida, então plantá-lo em consórcio com a cultura da palma, principalmente nos contornos dos quadrantes [será a estratégia]. São duas commodities: o cacau é negociado na Bolsa de Nova York e a palma na de Roterdã. Não que a BBF não esteja atenta a possíveis M&As [fusões e aquisições]. O propósito do projeto é ampliar a área plantada de palma porque o Brasil é um player pequeno na plantação de palma e temos um potencial para ser aproveitado e ganharmos destaque global nesta área.
AM – Milton, o senhor pode dar mais detalhes sobre este projeto de cacau?
Quando adquire área para fazer o plantio de palma, faz o georreferenciamento e encontra as áreas que estão em sintonia com o decreto presencial. As áreas que foram desmatadas, mas que se encontram fora do zoneamento não pode deixar degradas. Se está dentro do ativo que a companhia absorveu, precisa dar uma resposta ambiental. A forma de recuperar é plantando cacau. É uma situação que resolve não só o problema ambiental, mas dá resposta à questão trabalhista. Se com a palma, precisamos construir uma indústria de esmagamento para extrair o óleo de palma e fizemos uma planta termelétrica para queimar o bagaço e gerar energia para uma região tão carente de eletricidade, com o cacau será a mesma coisa. Vamos usar parte desse vapor que usa na extração do óleo para fazer a secagem do cacau. Tem muita sinergia [entre as atividades] e poderemos desenvolver a mão de obra com as pessoas saindo do campo para serem operadores de máquina e planejador de logística, por exemplo.
AM – A mistura obrigatória do biodiesel ao diesel aumentará dos atuais 10pc neste governo? Qual a perspectiva para o setor?
A validade dos argumentos para a redução da mistura de biodiesel já está vencida. Deveríamos recuperar a mistura porque o país importa um óleo diesel que é caro. O preço da soja caiu bastante: da faixa de R$200 por saca para pouco mais de R$150 por saca. Tem uma sinergia para aumentar a adição e diminuir a importação de óleo diesel. A indústria brasileira tem capacidade para atender à demanda sem soluço. A capacidade do uso das plantas de biodiesel está ao redor de 50pc. Desta forma, aumentaremos a produção de farelo ao invés de exportar soja in natura, agregando valor ao produto e aumentando os insumos para o confinamento de animais como bovinos, aves e suínos. Isso ajuda a combater a alta de preços porque coloca mais produto no mercado. Acredito que o governo vai aumentar a mescla. As pessoas falam em 12pc e espero que em março do ano que vem esteja nos 15pc.
AM – A empresa tem uma usina de biodiesel em Rondônia e está construindo outra no Amazonas. Quando a unidade entrará em operação e qual será a capacidade? Serão buscadas certificações para exportar biodiesel no futuro?
Temos uma planta de biodiesel no município de Ji-Paraná, em Rondônia, onde estamos terminando uma ampliação de capacidade para 200m³ por dia. Esta unidade que está sendo construída em Manaus [AM] é um processo à base de etanol, uma patente que o Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] propôs o estudo em 2012 e vencemos essa subvenção e registramos duas patentes. A própria entidade que financiará a construção para produzirmos biodiesel etanoico, que é 100pc renovável porque usa como insumos gordura, óleo e etanol e todos os catalisadores são biodegradáveis. O interessante é que nesta unidade instalaremos a parte de bioquímicos, [do braço de negócios] BBF BioTech, que são produtos que teremos para as áreas de cosméticos, cuidados com a saúde e bioinseticidas. A certificação é obrigatória porque precisaremos delas para esses produtos competirem com os petroquímicos.
19:00 6 AM – Vamos falar de energia elétrica, Milton. A BBF tem 25 termelétricas e está construindo outras 13 que também são movidas a biodiesel de óleo de palma. Como está a estratégia da BBF nesta área de negócios?
A maior parte dessas usinas entra em operação ainda neste ano. A maior delas, que é a Forte São Joaquim [em Roraima] deverá entrar em operação até o meio do ano com [potência instalada de] 56 MW e mais dez usinas no Pará que estão em fase de transição substituindo 6 usinas da antiga Guascor e quatro novas sendo construídas do zero. Até o meio do ano estarão em operação dez usinas no Pará e duas no Amazonas, em Tefé e Atalaia do Norte, movidas a biomassa. Estas estão na fase de contratação dos equipamentos porque já obtivemos as licenças de operação.
AM – Os reservatórios de água estão mais cheios neste ano. O senhor acredita que mesmo assim a geração termelétrica será necessária? O preço da eletricidade gerada com biomassa será competitivo? Hoje, a BBF atua exclusivamente no sistema isolado, então o ciclo de hidrelétrica não entra na nossa equação. Mas sua pergunta é boa porque teremos um leilão de capacidade no fim do ano que é justamente para tratar do que você falou. Como temos muita capacidade instalada de eólica e fotovoltaica existe a intermitência. O sistema precisa de energia na base para equilibrar essa alternância de quando entram as fontes eólica e solar nos momentos em as hidrelétricas não conseguirem cumprir seu papel devido à pluviosidade abaixo do esperado.
Deveremos estrear neste ano um novo modelo de contrato de energia dentro da BBF que são os leilões de capacidade. Existem grandes oportunidades para fazermos geração por demanda. Existem os contratos com obrigação de despachar e aqueles que despacha quando existe demanda do Operador Nacional do Sistema [ONS]. Fica com a unidade termelétrica parada, que no nosso caso será a óleo vegetal bruto. Quando o NOS manda, acionamos os motores e começamos a gerar energia. Quando ele determina o desligamento porque entraram outras fontes, ficamos de prontidão para dar a base para o sistema se manter em equilíbrio. Hoje, o preço do gás está muito alto e o fornecedor quer que o consumidor use este insumo. Como as termelétricas funcionam por demanda, muitas vezes o operador da usina pagará por um insumo que não utilizará. No nosso caso, como somos obrigados de matérias-primas, criamos uma convergência de fluxo para usar, repomos o volume e se não usar, destina para outros clientes.
AM – Agradeço a novidade compartilhada com exclusividade com a Argus, Milton. Por último, a BBF teve um faturamento de R$1,5 bilhão em 2022. Qual a perspectiva para crescimento neste ano? Os acionistas da companhia têm plano de fazer um IPO?
Não sei se consegui dar amplitude do que a BBF faz. Falamos de palma e de cacau. Você imagina a área que tenho para plantar esse cacau. Não tenho dúvida que daqui a dois anos você falará com a BBF e mencionará que somos os maiores produtores de cacau do Brasil e do mundo. São tantas as coisas que não conseguimos precificar na BBF. Muitos bancos e agentes financeiros nos provocam sobre isso, mas acredito que temos uma perspectiva espetacular, mas daremos um passo de cada vez. Queremos entregar essas plantas de biodiesel e nas usinas termelétricas. Vamos mergulhar de cabeça neste projeto com a Vibra para ser o produtor de diesel verde e de SAF da América Latina, com um projeto que será exemplo para o mundo e dizer: estamos recuperando a floresta, gerando emprego em uma região [carente]. Na região amazônica é difícil ter projetos grandes que avancem com quesitos de sustentabilidade. Espero que consigamos dar esses passos. A palma não pode ser mecanizada e trabalha com poucos produtos químicos porque é uma árvore e diferente de uma cultura curta como a soja e o milho. Quando tudo isso tiver pronto, daqui a três ou quatro anos, poderemos multiplicar de forma mais agressiva e vai precisar de capital intensivo e pensar em IPO para não plantar 100.000-150.000 hectares, mas 10 milhões ou 20 milhões de hectares que o país tem que continuam parados à espera de uma solução ambiental adequada.
AM – E qual é a perspectiva de crescimento para a BBF em 2023?
Saíamos desse quase R$1,5 bilhão em 2022, que na verdade foi um pouco menos, R$1,4 bilhão. Alcançaremos os R$2 bilhões em 2023 e será uma escalada quando todos os projetos forem entrando em operação.
AM – Muito obrigado pela conversa, Milton.
Este e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando traço de traço mercado. Visite a página para acompanhar o os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do Falando de Mercado. Até logo!”