Refinaria em Manaus será a primeira do país a usar fontes renováveis para o produto e deve ficar pronta em 2025
SÃO PAULO — A distribuidora de combustíveis Vibra (ex-BR Distribuidora) e a Brasil Biofuels (BBF) anunciaram nesta quarta-feira que a biorrefinaria da BBF a ser construída em Manaus vai produzir combustível sustentável de aviação, conhecido como SAF, a partir principalmente de óleo de palma.
A estimativa é a de que a planta esteja em funcionamento em 2025 e custe R$ 2 bilhões para ficar pronta.
Esse combustível para aviões a partir de fontes renováveis só é produzido atualmente na Europa e nos Estados Unidos e há projeção de forte crescimento de demanda por parte de companhias aéreas projetada para os próximos anos como resultado das estratégias empresariais para neutralizar emissões de carbono.
A BBF é produtora de óleo de palma e operadora de 18 usinas termelétricas na região Norte e já havia firmado uma parceria com a Vibra em novembro de 2021 para que a planta fosse dedicada à produção de HVO (óleo vegetal hidrotratado), o chamado biodiesel verde.
Segundo Milton Steagall, presidente da BBF, após a Vibra ter sido procurada por companhias aéreas sobre a viabilidade de se produzir o SAF no Brasil, a produtora de óleo de palma decidiu investir em adaptações em seu projeto para conseguir, também, refinar o SAF além do HVO. O investimento total na refinaria, antes projetado em R$ 1,8 bilhão, passou a R$ 2 bilhões a serem aportados pela BBF.
A Vibra contratou toda a produção da futura refinaria em um contrato de cinco anos prorrogável por mais cinco e deverá fazer a distribuição e comercialização dos produtos.
— Consultamos as tecnologias disponíveis hoje no mundo (para a produção de SAF) e faremos um investimento para a implantação. Poderemos fazer SAF, biodiesel verde ou ambos. O processo será verticalizado, o combustível será produzido principalmente com o óleo de palma que já produzimos, o que diminui riscos — afirma Steagall.
A empresa possui plantações de Palma no Pará e em Roraima. A refinaria será prioritariamente abastecida por óleo vindo de instalações da empresa em São João da Baliza (RR).
Produção de 500 mil metros cúbicos ao ano
A planta da BBF ficará na Zona Franca de Manaus e terá capacidade de produção de 500 mil metros cúbicos de combustível ao ano. A proporção de SAF e biodiesel verde a ser produzida no local vai ser estabelecida pela Vibra de acordo com a demanda pelos produtos.
Tanto o biodiesel verde quanto o SAF da planta serão “drop-in”, isto é, podem ser misturados ao combustível de origem fóssil e substituir, parcial ou integralmente, o diesel tradicional e o querosene de aviação (QAV) sem necessidade de adaptações.
Segundo Wilson Ferreira Júnior, presidente da Vibra, a ideia da companhia é garantir que o SAF brasileiro seja competitivo com o combustível alternativo produzido internacionalmente, embora o preço inicial tenda a ser mais elevado que o querosene de aviação.
O desafio atual do SAF é, sobretudo, o ganho de escala. Hoje, o SAF só é produzido na Europa e nos Estados Unidos e corresponde a 0,2% do combustível de aviação no mundo, segundo projeções da Latam, a maior companhia aérea da América Latina.
Preço mais alto
O preço do SAF chega a ser seis vezes o do querosene de aviação tradicional. A Latam anunciou na última semana que se compromete a usar até 5% de SAF em seus aviões até 2030.
— Somos o tomador do volume inteiro da planta e a estratégia é escalável, depende principalmente da adoção (de SAF e biodiesel verde) por parte dos agentes econômicos em torno dessa escolha (sustentável) — afirma Ferreira Júnior. A planta poderá aumentar a oferta se necessário.
O combustível da planta, diz o executivo, “tem características de eficiência únicas” e será mais barato que o produzido na Europa.
— O biocombustível na Europa é muito mais caro. Ali, a consciência que se tem é de que se precisamos descarbonizar o mundo, precisamos estimular oferta e, na medida em que se ganha escala, essas alternativas baixam de preço. No Brasil, nosso preço na largada vai ser menor que o estrangeiro — diz o executivo.
Segundo o presidente da Vibra, a produção de SAF se destinará principalmente ao mercado interno, mas a companhia poderá, também, exportar o produto caso haja demanda.
Por uma questão regulatória, os fabricantes de aeronaves hoje limitam a quantidade de SAF nos tanques de combustível dos aviões de última geração em 50%, mas gigantes como Boeing e Airbus já anunciaram a meta de certificar seus equipamentos para que possam operar, até 2030, com até 100% de SAF nos tanques.
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